‘Parecia um boneco’: após 15 anos, os bastidores do caso Kenefer que chocou SC

Caso Kenefer: print de um vídeo que mostra o campo de futebol onde o corpo da criança foi encontrado

Caso Kenefer: corpo da menina foi encontrado no alambrado de um campinho de futebol – Foto: Reprodução/YouTube/ND

No dia 1° de maio de 2010, um crime brutal marcou a história de Criciúma. Kenefer Maria de Jesus Guimarães, de 7 anos, foi sequestrada, estuprada, asfixiada até a morte e teve o corpo pendurado pelo pescoço com a própria calça no alambrado de um campinho de futebol, no bairro Floresta II, por Diego do Nascimento Burin, filho de uma vizinha da família da criança. Até hoje, o caso Kenefer está na memória dos criciumenses.

Em entrevista exclusiva ao ND Mais, o delegado responsável pelas investigações do caso Kenefer, Vitor Bianco Júnior, contou detalhes do crime que chocou Santa Catarina. Ele relembra que, por volta das 18h30 daquele dia, chegou a denúncia de que uma criança havia sido morta.

“Eu e o plantonista nos dirigimos até o local do crime e vi aquela cena que foi a pior na minha carreira por se tratar de uma criança. Uma cena bem complicada, eu chorei muito aquele dia. A gente tomou as dores da família”, pontuou o delegado.

“A menina estava pendurada no alambrado com a própria calça e parecia um boneco”, acrescentou.

Tão logo as autoridades chegaram no local do crime, os trabalhos de investigação iniciaram e, rapidamente, o caso tomou uma grande proporção. A Perícia também foi acionada e o corpo da pequena Kenefer foi levado ao IML (Instituto Médico Legal).

“Eu pedi aos policiais militares, que estavam isolando a área, para fazerem diligências com o intuito de prenderem em flagrante o autor do crime, o que não foi possível. Esse é a principal memória de uma cena sem explicação”, detalhou Bianco.

Os elementos preponderantes para a investigação do caso Kenefer

A vítima brincava, com outras crianças, no momento em que foi sequestrada. Conforme o delegado, essas testemunhas contribuíram com informações para que o campo de investigação fosse reduzido e, assim, os órgãos pudessem chegar à autoria do crime.

Ainda segundo Bianco, o trabalho do IGP (Instituto Geral de Perícia), hoje, Polícia Científica, também foi preponderante durante o processo de investigação. “Foi um conjunto bem feito, tanto o trabalho de campo, quanto a perícia”, frisou.

Além das informações obtidas durante as oitivas, foram feitos 19 exames de DNA durante as investigações do caso Kenefer para chegar ao nome de Diego do Nascimento Burin.

“Em dois dos exames, a sequência genética era igual a do autor. Tinha uma diferenciação só, o que indicava ser pessoas da mesma família. Então, eu solicitei a um agente de polícia para fazer a árvore genealógica da família Burin e nós identificamos quem eram os homens que faltavam ser chamados na delegacia e o Diego foi identificado como o autor do crime”, detalhou Bianco.

“O filho do autor brincava com a vítima”

O depoimento do autor durou cerca de três horas. “Ele confessou o crime, disse que havia ingerido bebida alcoólica e feito o uso de drogas”, relembrou o delegado. Durante a declaração, Diego do Nascimento Burin teria agradecido por estar sendo preso porque “não aguentava mais viver daquele jeito, sob aquela pressão toda”, acrescentou.

Bianco recorda que o condenado disse que teria passado no local e pedido para que a menina fosse com ele porque os pais estavam chamando ela, quando, na verdade, levou-a ao campinho de futebol. As duas famílias, da Kenefer e do autor, eram próximas. “O filho do autor brincava com a vítima”, relembrou o delegado.

Sobre a condenação do autor do crime

Diego do Nascimento Comin foi condenado a 38 anos e oito meses de prisão no dia 29 de novembro de 2011. Um dos promotores responsáveis pelo caso, Alex Sandro Teixeira da Cruz, afirmou ao ND Mais que já trabalhou em muitos casos, de todos os tipos, ao longo dos 43 anos de atuação no serviço público, e considerou esse como com o maior volume de violência.

Caso Kenefer: o autor do crime cobrindo o rosto com um moletom na Delegacia de Criciúma

Caso Kenefer: o autor foi condenado a 38 anos de prisão pelo crime contra a criança – Foto: Reprodução/YouTube/ND

“Isso não apenas chamou a atenção; na verdade, muito mais do que chamar a atenção, é um caso que chocou a mim e a todos, sobretudo quando praticado contra uma criança indefesa”, enfatizou. O promotor considera o resultado do julgamento o melhor dentro do que a legislação permite.

“Quanto ao julgamento, sentíamos, eu e o Ricardo Leal, que também atuou como promotor do caso, grande responsabilidade para que, com nosso trabalho, pudéssemos corresponder às expectativas e conseguíssemos que o Júri desse a resposta que toda a sociedade esperava”, explicou.

À reportagem, a Sejuri (Secretaria de Estado de Justiça e Reintegração Social de Santa Catarina) informou que o autor cumpre, atualmente, regime semiaberto em uma unidade prisional catarinense, mas não detalhou qual por “questões de segurança”.

Em 2023, a reportagem da NDTV Criciúma conversou com profissionais que atuaram no caso Kenefer. Assista:

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