Múmias com traços de cocaína indicam que droga era consumida 200 anos antes do que se pensava

Descobertas recentes revelaram que o uso de cocaína na Europa, onde a planta não é nativa, pode ter começado muito antes do que se estimava: precisamente dois séculos, em 1600 d.C.

Amostras dos cérebros mumificados com cocaína

Amostras dos cérebros mumificados com cocaína – Foto: Divulgação/CC BY Journal of Archaeological Science 4.0/ND

A cocaína é uma das drogas mais usadas atualmente, envolvida em 1/5 das mortes por overdose em todo o mundo. Além disso, em 2020, teve um valor de varejo de 1,5 bilhão de dólares no segundo maior mercado ilegal de drogas.

A substância é um estimulante viciante extraído da planta Erythroxylum, nativa da América do Sul. Ainda existem pouquíssimas evidências concretas de quando as pessoas começaram a consumir essa planta na Europa.

O estudo foi feito por pesquisadores da Universidade de Milão, em colaboração com a Fundação Ca’ Granda do Hospital Policlínico Maggiore de Milão, na Itália, e publicado no Journal of Archaeological Science.

As amostras com cocaína

Análises toxicológicas foram realizadas em nove cérebros humanos preservados, que estavam mumificados na Igreja da Beata Vergine Annunciata, para onde eram levados os pacientes do Hospital Ospedale Maggiore que não sobreviviam.

Na época, o hospital era especializado no tratamento médico de doenças agudas entre pessoas pobres e desfavorecidos que moravam em Milão.

A presença de componentes ativos da planta da coca (Erythroxylum spp.) foi encontrada em duas amostras biológicas separadas, ou seja, de duas pessoas diferentes.

Planta Erythroxylum, de onde é extraída a cocaína

Planta Erythroxylum, de onde é extraída a cocaína – Foto: Reprodução/ND

Segundo os pesquisadores, a coca não foi listada pelo hospital como um fármaco usado como um remédio medicinal, o que sugere que ela pode ter sido ingerida para fins recreativos, ou por curandeiros da cidade.

A presença de higrina, um composto encontrado nas folhas de coca, mas não na cocaína purificada, também indica que os pacientes provavelmente mascavam as folhas ou as consumiam como chá.

A possibilidade dos restos mortais terem sido contaminados por agentes externos foi descartada pelos pesquisadores já que sete, das nove amostras, derem negativo para a presença da coca.

Além disso, outros tecidos e ossos ao redor dos que foram positivos também não estavam contaminados.

Outras drogas

Em 2023, outro estudo conduzido nos mesmos restos mortais humanos já haviam detectado a presença de compostos de maconha (Cannabis) em amostras de osso femoral.

A planta também não era usada como remédio no hospital, o que sugere uso para fins recreativos, como automedicação, ou pode ter sido administrada como parte de um remédio médico por curandeiros que não trabalhavam no hospital.

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