Câmera escondida em banheiro em Goiás: “é razoável supor que haja novas vítimas”, diz delegada à CNN

A delegada Aline Lopes, da Delegacia de Proteção à Criança e Adolescente (DPCA) de Anápolis (GO), afirmou à CNN nesta terça-feira (23) que acredita na possibilidade de que o empresário preso na semana passada após ter colocado uma câmera escondida dentro do banheiro de uma casa de família possa ter feito outras vítimas.

Francismar Fernandes da Silva, 36 anos, é proprietário de uma casa em Anápolis, município localizado a cerca de 60 km de Goiânia. O imóvel estava alugado para uma família de cinco pessoas –incluindo crianças e adolescentes. Em fevereiro, uma jovem de 16 anos ficou desconfiada após flagrar o homem no banheiro da casa e acionou a polícia, que constatou a presença da câmera escondida.

O preso é dono de uma empresa que faz a instalação de placas de energia solar. “Para exercer a atividade dele, ele tem acesso ao interior de inúmeras residências”, disse a delegada.

“A imagem dele foi divulgada a fim de investigar se há novas vítimas, se ele pode ter instalado a câmera em outras residências. Se ele foi capaz de instalar uma câmera para espionar uma família que ele conhecia, é razoável supor essa possibilidade de novas vítimas”, acrescenta.

De acordo com as investigações, a câmera ficou no imóvel por cerca de 15 dias. Aline diz que, cerca de quatro dias depois de a família ter se mudado para lá, Francismar pediu para ir ao local, alegando que precisaria verificar as câmeras de segurança da casa.

Nesse dia, diz a delegada, o proprietário do imóvel pediu para usar o banheiro. A locatária ofereceu a ele um banheiro em uma parte externa do imóvel. “Mas ele insistiu, falou: ‘Não, pode ser esse banheiro aqui mesmo’. Esse banheiro ficava no interior da casa, pois ele sabia que os moradores utilizariam aquele banheiro para tomar banho.”

Fracismar teria permanecido no banheiro por cerca de dez minutos. “Nós acreditamos que foi nessa oportunidade, após a família já está morando naquela residência, que ele instalou com essa câmera”, acrescenta Aline.

Veja o momento em que o empresário é preso:

No dia em que a adolescente flagrou o empresário na casa, a garota não havia ido à escola, por não estar se sentindo bem. “Ela acordou com o barulho dos latidos do cachorro e viu o cachorro latindo em direção ao banheiro. Quando ela abriu a porta, flagrou o Francismar.”

Ao ser questionado sobre o motivo da sua presença, o empresário demonstrou nervosismo. “Ele deu uma desculpa qualquer, disse que o sistema havia caído, e logo em seguida fugiu bem nervoso”, disse a delegada do caso.

Assim que Francismar deixou o local, a garota notou que havia algo diferente na tomada. Mais tarde, quando os pais dela viram a tomada, descobriram que havia uma câmera posicionada na direção ao box onde a família tomava banho. A família acionou a polícia que, após perícia, confirmou que se tratava de um equipamento de filmagem.

“A câmera transmitia as imagens captadas ali em tempo real. Também havia um cartão de memória. Nesse cartão de memória havia vários registros ao longo dos dias das pessoas que moravam naquela casa tomando banho e do próprio Francismar ajustando o ângulo da câmera.”

“A Polícia Civil acredita que ele invadiu a residência nesse dia acreditando que não havia ninguém em casa, porque ele conhecia a rotina dessa família, e que ele teria ido até lá para ajustar o ângulo dessa câmera e conseguir captar melhor ainda as imagens”, complementa a delegada.

Empresário pode ser indiciado por mais crimes

A delegada Aline Lopes afirma que, a princípio, Francismar será indiciado por invasão de domicílio e pelo registro de imagens pornográficas envolvendo crianças e adolescentes.

Entretanto, caso seja comprovado que ele compartilhava esses conteúdos gravados, ele pode responder por mais crimes.

“Os dispositivos eletrônicos dele, que foram apreendidos quando nós cumprimos os mandados de prisão e de busca e apreensão, serão periciados para que nós possamos detalhar e especificar exatamente por quantos dias essa câmera ficou funcionando, quais os arquivos que ele armazenou, a quais imagens ele teve acesso e o que ele fez com essas imagens: se ele apenas armazenou, se ele transmitiu, vendeu ou compartilhou essas imagens com outras pessoas.”

Ainda não há uma previsão de quando sairá o resultado da perícia nos equipamentos dele.

A delegada explica que a conduta do empresário configura invasão de domicílio mesmo ele sendo proprietário da casa.

“Ele não tinha mais a posse daquele imóvel, pois tinha alugado. Os moradores têm seu direito inviolável à privacidade e ao lar. Ele jamais poderia entrar lá sem autorização dos moradores, a não ser em casos extremos”, diz,

Ela destaca também que, mesmo que Francismar morasse na casa e que as pessoas filmadas fossem parentes dele, ele não poderia fazer esses registros sem autorização das pessoas.

Equipamentos encontrados em posse do empresário Francismar Fernandes da Silva passarão por perícia
Equipamentos encontrados em posse do empresário Francismar Fernandes da Silva passarão por perícia / Divulgação/Polícia Civil de Goiás

Suspeito ficou em silêncio na delegacia

De acordo com a delegada, o empresário ficou em silêncio na delegacia ao ser questionado sobre o caso.

“Mas informalmente eu perguntei se ele havia instalado câmeras em outras residências. Ele negou e disse que não, e que ele teria instalado naquela casa porque a casa era dele. Então, ele parece acreditar que ele teria esse direito”, finaliza.

O que diz a defesa

Por meio de nota, a defesa de Francismar diz que, “até o presente momento”, não teve acesso aos autos que resultaram na prisão preventiva do cliente.

“A ausência de acesso aos documentos pertinentes compromete substancialmente nossa capacidade de preparar uma defesa eficaz em nome de nosso cliente. O direito fundamental à ampla defesa e ao contraditório é essencial em um Estado Democrático de Direito, e estamos comprometidos em garantir que esses direitos sejam plenamente respeitados. Apelamos às autoridades competentes para que respeitem o devido processo legal e garantam que todas as partes envolvidas tenham acesso igualitário às informações necessárias para uma atuação justa e adequada. E, também, à imprensa para que tenha paciência para apurar todo o fato antes de emitir um juízo de valor sobre a situação”, diz o texto.

A defesa diz ainda que está “empenhada em cooperar plenamente com as investigações, desde que nos seja concedida a oportunidade de examinar os elementos que embasam as acusações contra nosso cliente”.

“Confiamos que, com o acesso aos autos, seremos capazes de exercer plenamente o direito de defesa e esclarecer quaisquer equívocos que possam ter ocorrido neste caso. Permaneceremos vigilantes na defesa dos direitos de nosso cliente e trabalharemos incansavelmente para garantir que a justiça seja alcançada de maneira justa e imparcial”, finaliza.

Este conteúdo foi originalmente publicado em Câmera escondida em banheiro em Goiás: “é razoável supor que haja novas vítimas”, diz delegada à CNN no site CNN Brasil.

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