Dia do Avicultor: famílias catarinenses mantêm a avicultura forte e movimentam economia

Força de uma das maiores cadeias produtivas do Brasil, a avicultura catarinense preserva suas bases sustentadas por propriedades familiares. A tradição transmitida por gerações leva o estado ao segundo lugar no ranking dos maiores produtores de aves do Brasil, com produtos exportados para 150 países, segundo a ABPA (Associação Brasileira de Proteína Animal).

Nesta quarta-feira (28), comemora-se o Dia do Avicultor e da Avicultura no Brasil. Em Santa Catarina, a Seara, empresa da JBS que está entre as maiores produtoras mundiais de frango, possui uma rede de 1.570 aviários responsáveis pelo fornecimento para suas 11 unidades industriais distribuídas pelo estado. “A grande maioria dessas propriedades é formada por famílias, salvo pequenas exceções”, conta o gerente-executivo de Sustentabilidade Agropecuária da Seara, Vamiré Luiz Sens Júnior.

As propriedades atuam no modelo de integração, no qual a indústria fornece os pintinhos para criação, a ração, os medicamentos e o assessoramento especializado de técnicos e veterinários. O ciclo das aves dentro dos aviários dura cerca de 40 dias, período de trabalho dia e noite, pontua o avicultor Josiel Fernandes, de Ermo, no Sul do Estado.

“Eu e meu irmão (Jones) nos revezamos para que um sempre esteja aqui e garantir que tudo esteja nas melhores condições para os frangos e atender ao padrão que a empresa pede. Nesse meio tempo tem muitas intempéries. Frio, calor, algum ajuste de máquina. E para isso não tem hora, nem sábado, domingo e feriado”, conta.

Os irmãos Fernandes administram junto à mãe, Neuza, a propriedade e contam com as esposas, Joelma e Amanda, para as atividades diárias. A ligação da família com a avicultura tem na origem uma mistura de paixão e acaso. Na infância, o primogênito Josiel frequentava uma antiga granja de um vizinho, na comunidade de Santana, enquanto os pais se dedicavam ao cultivo de fumo. Anos mais tarde, apareceu uma oportunidade para a compra de uma estrutura de aviário usada, em 1998. A ideia inicial era uma segunda atividade para complementar a renda da família.

O principal ponto de virada para os Fernandes veio em 2006, com o falecimento do pai. A ausência do pai, a preferência dos filhos pela criação de aves em detrimento da agricultura e oportunidades de expansão modificaram a prioridade de Neuza ao assumir o protagonismo nos negócios, Na escolha pelos aviários, a produtora vê uma atividade para “engajar e dar um sustento à família”.

“É também um meio de renda mais seguro do que o fumo (remuneração por safra). E a gente vai ficando mais de idade, então nesse ramo fica mais fácil para todo mundo e fica na família”, conta.

Mais de 25 anos depois de começar uma produção com 7 mil aves por ciclo, hoje a propriedade da família Fernandes abriga 100 mil aves. O avanço dos recursos e da tecnologia no campo permitem que o mesmo número de pessoas consiga administrar o volume exponencialmente maior.

“Com uma mão de obra menor, hoje, se consegue fazer um trabalho com mais qualidade, com resultados melhores. Tudo é automatizado. Sempre tem alguém olhando o painel, o ventilador, a ração, a água dos animais. Está tudo ali. A gente vai ajustando os detalhes no dia a dia”, relata Josiel.

Avicultor: amor à atividade e persistência para desafios

Em mais de 30 anos na avicultura, Miguel Crepaldi tem histórias de sobra para contar. De família de agricultores, foi convencido pelo pai, pioneiro na atividade avícola em Morro Grande, a começar uma criação própria de frangos. Depois de 15 anos, dividindo-se entre a lavoura de fumo e a granja, resolveu priorizar a avicultura.

Em 2010, o primeiro grande investimento, com a montagem de dois novos aviários na propriedade, veio seguido de um grande revés: um vendaval destruiu a obra recém completada. A data nunca foi esquecida. “Era uma sexta-feira 13 no mês de agosto. Sempre quando chega essa época torço para não acontecer isso de novo”, conta Miguel.

Oito meses depois uma nova tragédia pessoal provocada pelo clima. A força de uma enchente inundou e varreu toda a propriedade e, neste momento, a inevitável dúvida sobre continuar ou não na atividade veio à cabeça de Miguel.

“Fiquei um tempo com dois aviários parados e pagando o financiamento de um deles. Resolvi continuar, fui atrás das licenças e, em 2014, voltei a alojar aves no galpão e, enquanto isso, precisei reconstruir um aviário antigo. Compensava mais derrubar e fazer um novo do que reformar o velho”, relata.

A persistência de Miguel foi testada novamente em 2020, quando obteve a oportunidade de uma nova ampliação, com o apoio da Seara, mas os tempos de pandemia acabaram atrasando a entrega da obra em mais de um ano. Hoje Miguel, com o apoio da esposa e dos filhos, cria 140 mil aves. “Hoje a tecnologia faz tudo ficar mais fácil, automatizado. Outro ponto que vem ajudando bastante é a energia solar, que instalamos com ajuda da Seara. Com as placas o custo da energia caiu mais de 80%”, relata.

Dos aviários para pratos do mundo inteiro

A dedicação diária dos avicultores visa entregar o melhor produto para alimentar pessoas do mundo inteiro. “É uma atividade cheia de segredinhos, mas não é difícil. O que prezamos é para estarmos atentos o tempo todo para garantir um frango de qualidade”, enaltece Josiel.