Imagens revelam ex-secretário com investigados de esquema do lixo em Florianópolis

Ação apura suspeita da prática de crimes contra a administração pública tendo como foco uma licitação para coleta de resíduos sólidos
Imagens revelam encontro de ex-secretário com investigados de esquema do lixo em Florianópolis (2)Ed Pereira teria se encontrado com investigados em abril de 2021 (Foto: Polícia Civil)
Imagens, que constam na investigação de um suposto esquema de corrupção com a coleta de lixo em Florianópolis, mostram o encontro do ex-secretário Ed Pereira (União Brasil) com representantes da Amazon Fort, empresa pivô do inquérito. Os dois foram alvos da Operação Presságio, realizada pela Polícia Civil de Santa Catarina na quinta-feira (19), que apura a suspeita da prática de crimes contra a administração pública, com possível envolvimento de agentes públicos municipais em conluio com particulares, tendo como foco uma licitação para coleta de resíduos sólidos.
Imagens revelam encontro de ex-secretário com investigados de esquema do lixo em FlorianópolisEd Pereira em encontro com investigados (Foto: Polícia Civil)
As imagens constam na representação do mandado de busca e apreensão apresentada pela polícia à Justiça e que detalha a investigação. Conforme o processo, Carlos Henrique Xavier Faria e Iuri Daniel Faria teriam vindo a Florianópolis em 8 de abril de 2021 e se encontraram com Ed Pereira, na Passarela Nego Quirido, por cerca de duas horas.
Esquema do lixo em Florianópolis teve dinheiro vivo e pequenos depósitos para evitar suspeitas
Em 17 de abril, ocorreu o aditamento do contrato da Amazon Fort com a prefeitura. Dez dias depois, Carlos Henrique Xavier depositou R$ 49.990,00 para Gilliard Osmar dos Santos, um então servidor da Câmara Municipal que é apontado pelos investigadores como um braço-direito do ex-secretário Ed Pereira, o suposto real beneficiado pelo dinheiro.
Imagens revelam encontro de ex-secretário com investigados de esquema do lixo em FlorianópolisPublicação anunciado a vaga (Foto: Polícia Civil)
A quantia sem arredondamento não é obra do acaso, segundo o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), órgão responsável por fiscalizar movimentações suspeitas, relatou à Polícia Civil: instituições financeiras precisam, obrigatoriamente, reportar ao Coaf depósitos acima de R$ 50 mil.
Saque de dinheiro vivo
A quebra do sigilo bancário dos investigados ainda apontou que um advogado ligado à Amazon Fort, Andrey Cavalcante de Carvalho, e um dos administradores da empresa, Iuri Daniel Faria, teriam sacado R$ 500 mil somados em dinheiro vivo, em quatro ocasiões diferentes ao final de 2020, de uma agência bancária em Florianópolis, apesar de o grupo estar sediado em Porto Velho, capital de Rondônia.
“Essa prática é uma tipologia comum em casos de corrupção e lavagem de dinheiro, uma vez que são feitos depósitos em contas de empresas/empresários que supostamente prestam serviços e, posteriormente esses valores são lançados como despesas do tipo ‘serviços jurídicos’, na demonstração de resultado de exercício/balanço patrimonial da empresa Amazon Fort, no caso aqui analisado”, descreve a investigação sobre a movimentação com dinheiro vivo.
Além de Gilliard Osmar dos Santos, que depois foi gerente de fiscalização de obra da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano (SMDU) em Florianópolis, os investigadores acreditam que a esposa de Ed Pereira, Samantha Santos Brose, também teria recebido valores em nome do marido. Na altura em que foi alvo de busca e apreensão, ela era servidora comissionada da Câmara de Florianópolis.
O próprio Gilliard repassou para ela R$ 2,7 mil divididos em oito transferências. Samantha ainda recebeu 55 depósitos em espécie, todos eles com valores baixos, o que desobriga a identificação de quem deposita, que totalizaram R$ 90 mil. Alguns deles foram feitos no mesmo dia dos saques em dinheiro vivo pelos representantes da Amazon Fort. No período da quebra de sigilo, a esposa do ex-secretário movimentou cerca de R$ 324 mil, embora tivesse renda de um saláro mínimo, segundo a investigação.
Já o ex-secretário Ed Pereira, com renda de R$ 13 mil à época, movimentou R$ 870 mil diluídos em 68 depósitos em dinheiro, a grande maioria com baixas quantias e sem identificação de depositante. No período investigado, ele teria recebido, inclusive, um Pix de R$ 6,6 mil de um conhecido doleiro que serve a organizações criminosas no Brasil e no exterior, preso pela Polícia Federal no ano passado.
Anúncio de vaga de emprego
A investigação traz, ainda, uma postagem de uma rede social em que mostra a Amazon Fort anunciando vagas de emprego para atuação em Florianópolis cerca de 20 dias antes da assinatura do contrato com a prefeitura de Florianópolis.
Imagens revelam encontro de ex-secretário com investigados de esquema do lixo em Florianópolis
Publicação anunciado a vaga (Foto: Polícia Civil)
“Conclui-se que, a empresa Amazon Fort já tinha conhecimento 20 dias antes da decretação da greve da COMCAP, que seria contratada para prestar tal serviço em Florianópolis. Não há outra explicação plausível para tal acontecimento, além de prévio ajuste entre os Agentes Públicos Municipais e os administradores da empresa”, diz o processo.
O que dizem os investigados
A Amazon Fort, empresa conduzida pelos investigados Carlos Gilberto Xavier e Iuri Daniel Faria, comunicou, em nota, ter prestado um serviço com extremo grau de excelência e transparência em Florianópolis. Afirmou ainda que irá colaborar para a elucidação dos fatos.
— Não há qualquer crime a ser apurado, o que será devidamente esclarecido no momento oportuno —, escreveu, ao NSC Total.
Andrey Cavalcante de Carvalho afirmou, também à reportagem, atuar efetivamente como advogado da Amazon Fort e ter recebido com surpresa os fatos relatados no processo. Disse ter plena confiança na própria lisura e declarou que atuará firmememente em defesa de sua honra.
— Vejo um terrível equívoco que pune a atividade advocatícia, criminaliza o profissional, e viola as mais comezinhas prerrogativas outorgadas à minha classe. Contudo, confio no Estado de Direito e no Poder Judiciário —, escreveu o advogado, em nota.
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O ex-secretário Ed Pereira afirmou, em vídeo divulgado pelas redes sociais no dia em que foi alvo de busca e apreensão, não ter medo da investigação nem ter nada a esconder. Ele acrescentou ter cooperado com a operação da Polícia Civil e estar confiante de que a Justiça será feita.
— Quero acreditar que é pura coincidência que, em 2024, ano de eleição, essa investigação avance, e que meu nome acabe envolvido no processo. Inclusive, um dos agentes que participou da operação lá em casa parecia bem interessado no meu futuro político, ao ponto de afirmar que eu era candidato a vice-prefeito — disse Ed, em alusão ao rumor de que ele fará chapa com o prefeito Topázio Neto neste ano.
A defesa de Ed Pereira e a esposa dele, Samantha Santos, afirmou que ambos possuem fontes lícitas de renda, que serão “devidamente comprovadas nos autos, em momento oportuno”.
“A busca e apreensão, com a colheita das provas, ainda não foi finalizada. Muitos documentos que foram apreendidos, e outros que serão oportunamente trazidos, servirão para esclarecer os fatos, e comprovarão a inocência dos nossos clientes. Estamos confiantes que se fará Justiça, ante as infundadas acusações”, pontua o advogado Guilherme Fernandes Cirimbelli.
Entenda a investigação
A investigação teve início em janeiro de 2021 após a denúncia de crime ambiental em um terreno próximo à Passarela Nego Quirido. Na apuração, foi constatada que a empresa tercerizada, contratada para realizar a coleta de lixo durante a greve da Comcap, estava realizando o transbordo de resíduos no local de forma inapropriada e a poucos metros da Baía Sul, no Centro da capital catarinense.
Outro ponto investigado é o contrato entre a empresa e a prefeitura. Isto porque o estabelecimento, com sede em Porto Velho, Rondônia, foi contratado de maneira emergencial, sem processo licitatório, por conta da greve, que ocorreu em 20 de janeiro de 2021. No entanto, há anúncios em uma rede social, de 29 de dezembro de 2020, onde a empresa anuncia vagas de emprego relacionadas a coleta de resíduos para Florianópolis.
Ainda de acordo com a polícia, a empresa teria assinado o contrato com o município em 19 de janeiro, ou seja, um dia antes da greve.
“Segundo apurado, os investigados, supostamente orquestraram um esquema ilícito para contratar a empresa terceirizada durante a greve da COMCAP, entretanto, mesmo após o término da greve da autarquia, a empresa terceirizada permaneceu realizando os serviços de coleta, por, aproximadamente 02 anos, sem a devida licitação. A greve da COMCAP teve duração de 10 dias e o contrato vigorou por 17 meses”, diz a nota da polícia.
Por fim, a investigação aponta a suspeita de outros arranjos ilícitos, envolvendo repasses de valores de uma secretaria, por meio de contratos de fomento, para um instituição não governamental.
Na quinta-feira (18), 24 mandados de busca e apreensão foram cumpridos em Florianópolis e Porto Velho, além de quatro ordens de afastamento de cargo público de servidores comissionados da capital catarinense.
As buscas ocorreram na casa dos investigados, na Câmara de Vereadores de Florianópolis e em secretarias da prefeitura. Entre os alvos estão o secretário de Turismo, Ed Pereira, e secretário de Meio Ambiente, Fábio Braga.
Foram apreendidos aparelhos eletrônicos, principalmente celulares, e documentos relacionados aos fatos investigados. O inquérito apura suposta prática de crime ambiental de poluição,  fraude à licitação, corrupção passiva, corrupção ativa, associação criminosa e lavagem de dinheiro, que teriam sido cometidos por agentes públicos em conluio com particulares.
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