Cine Raízes estreia com sessões em comunidades periféricas do Contestado

O jovem artista Elias de Lima Lisboa, um “afro-indígena Kaingang e caboclo”, como o próprio se apresenta, e criado na Vila Usina, em Caçador, começa nesta segunda-feira (02) a sua jornada com o cineclube “Cine Raízes”, projeto itinerante que levará cinema e cultura para 10 comunidades periféricas nas cidades de Caçador e Lebon Régis – na histórica região do Sertão do Contestado.

Serão mais de 30 sessões, onde serão exibidos filmes de ficção, documentários, produções experimentais e videoclipes produzidos em várias regiões do Brasil.

“Diga ao povo que avance” é um dos curtas selecionados pelo Cine Raízes, iniciativa que levará sessões gratuitas para 10 comunidades periféricas na região do Contestado – Foto: Evelyn Freitas/Divulgação

Toda a programação é gratuita e a sessão de abertura, chamada “Transcestralidade em retomada”, ocorrerá nesta segunda, às 19h30, no Cine Lúmine Caçador. Na tela, o público vai assistir aos filmes “Cadê o Rio?!” (Coletivo Manivas, videoclipe), “Diga ao povo que avance” (Evelyn Freitas, documentário) e “São Luis – Havana” (Criolina e Celso Borges, videoclipe). Também haverá a apresentação da peça “Raízes de Aiyê”.

A programação completa das sessões e ações formativas, estão disponíveis no Instagram do Cine Raízes.

Clipe “São Luiz – Havana” (Criolina e Celso Borges)

Contemplado pelo Prêmio Catarinense de Cinema – Edição Especial Lei Paulo Gustavo/2023, com apoio da Associação Amigos do Museu do Contestado, Ombu produção e Pupilo Play – o projeto nasceu da necessidade de criar um espaço de reflexão e diálogo nas comunidades periféricas do Oeste catarinense, visando democratizar o acesso ao cinema e ao fazer cultural.

Para o artista e idealizador do Cine Raízes, Elias de Lima Lisboa, os conflitos inerentes do Contestado ainda permanecem para muitas comunidades periféricas – Foto: Elias de Lima Lisboa/Divulgação

Contestado: a guerra silenciosa ainda continua

Lisboa conta que para essa edição, o Cine Raízes recebeu mais de 500 inscrições com filmes de todo o Brasil – destes, 20 produções foram selecionadas e que serão exibidas até o primeiro semestre de 2025 em escolas de 10 comunidades. O projeto surge em Caçador e Lebon Régis, cidades localizadas região que foi palco da Guerra do Contestado, o maior conflito armado já registrado no Brasil ocorrido entre 1912 e 1916.

Uma guerra que, para o jovem artista, deixou um legado na região, que se reflete na formação das periferias da cidade, na desigualdade social, nos altos índices de pobreza, no apagamento histórico e identitário dessa população. “Quando eu falo do Contestado, eu sempre acabo indo para um lugar que é o imaginário existencial. E aí sempre acabo saindo um pouco do físico, né? A guerra faz parte, mas o Contestado hoje, para mim, é a Vila Usina e as comunidades que estamos levando esse projeto.”

Elias ressalta a importância em deixar claro que o contestado é uma guerra que permanece. “Podemos colocar que o conflito armado teve seu “fim” em 1916, porque eu vejo que a guerra mesmo não acabou, ainda estamos lutando pelo território, pelo direito à terra, como dizem meus parentes indígenas, hoje nos matam com canetas”.

Programe-se “Sessão de abertura do Cine Raízes”

Quando: Segunda-feira (02), 19h30
Onde: Cine Lúmine Caçador. Rua Onio Pedrassani, 645, Centro, Caçador
Entrada: Gratuita.

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