Defesa de ex-marido de galerista morto no Rio vê homofobia na investigação

OUTRO LADO: Polícia diz que indiciamento de Daniel Sikkema, apontado como mandante do crime, usou ‘dados objetivos’
Daniel Sikkema, ex-marido de Brent Sikkema, galerista morto no Rio de Janeiro

Daniel Sikkema, ex-marido de Brent Sikkema, galerista morto no Rio de Janeiro – Reprodução

O escritório de advocacia brasileiro que assumiu a defesa de Daniel Sikkema, de 53 anos, que teve a prisão decretada pela Justiça brasileira por suspeita de ser o mandante do assassinato do galerista Brent Sikkema, afirma que a investigação “reflete, lamentavelmente, os preconceitos estruturais ainda persistentes em nossa sociedade, especialmente contra membros da comunidade LGBTQIA+”.
A declaração de suposto preconceito consta na nota da advogada Fabiana Marques, que assumiu a defesa de Daniel após o cubano Alejandro Prevez, de 30 anos, suspeito de matar Brent a facadas, o ter apontado como mandante do crime.
A defensora afirma, ainda, que a polícia não foi isenta devido a esse suposto preconceito. “A natureza do crime, marcada por indícios de passionalidade, demanda uma investigação meticulosa e isenta, que considere todas as possíveis vertentes sem recorrer a estigmatizações prejudiciais.”
Ainda de acordo com a defesa, Daniel não teria sido chamado formalmente para depor. “A ausência de tal convocação sublinha uma preocupante falta de procedimento padrão, considerando a gravidade das acusações veiculadas”, diz a advogada.
Procurado, o titular da Delegacia de Homicídios, Alexandre Herdy, afirmou que “as razões que levaram ao indiciamento de Daniel Sikkema foram expostas no relatório final de inquérito”.
“O indiciamento ocorreu a partir da reunião de dados objetivos, com base em diligências desenvolvidas pela Delegacia de Homicídios da Capital”, diz Herdy, “que serviram como base para a denúncia do Ministério Público e para a decretação da prisão preventiva de Daniel Sikkema e Alejandro Triana Prevez”.
Daniel, cubano naturalizado americano, é ex-marido de Brent e teve a prisão decretada no Brasil. Os Estados Unidos ainda analisam o pedido de prisão.
Brent era fundador da Sikkema Jenkins & Co, galeria de arte contemporânea em Nova York. O espaço trabalha com artistas como Jeffrey Gibson, que representará os Estados Unidos na próxima Bienal de Veneza, em abril, além de já ter exposto peças de Yashua Klos, Jorge Queiroz e do brasileiro Vik Muniz.
No processo há dois contatos realizados pela polícia por intermédio de email a Daniel para comparecer à delegacia. Em resposta, Daniel afirma que passa por luto e que não tem previsão de viagem ao Brasil.
A advogada declarou também que seu cliente passa por luto e, “apesar da proximidade e do relacionamento tanto profissional quanto pessoal entre Brent Sikkema e quem lhe tirou a vida, não há fundamentos legais que justifiquem as suspeitas lançadas sobre o senhor Sikkema”. O principal suspeito do crime, Prevez, teria trabalhado como segurança do casal em Cuba, quando eles eram casados.
COMO FOI O CRIME E QUAIS SÃO AS PROVAS
Brent Sikkema foi morto na madrugada do dia 14 de janeiro com 18 facadas dentro do sobrado em que passava férias no Rio de Janeiro, no Jardim Botânico. O principal suspeito do crime, Alejandro Prevez, de 30 anos, preso quatro dias após o crime, afirmou em depoimento que cometeu o homicídio por encomenda de Daniel, que foi casado com a vítima por cerca de 15 anos.
Daniel teria prometido o pagamento de US$ 200 mil —cerca de R$ 1 milhão— pelo homicídio de Brent, diz Prevez. Como provas técnicas do envolvimento de Daniel, a polícia apresentou endereços de IP e o número do celular que mantiveram conversas com Prevez durante o período, incluindo tentativas de comunicação após o crime. Tanto o IP quanto o celular teriam ligação com Daniel, segundo relatório obtido pela reportagem.
A polícia também tem como provas os comprovantes das empresas que enviaram dos Estados Unidos ao Brasil remessas de dinheiro e cópia da chave do sobrado onde a vítima residia no Rio. Com a chave, Prevez entrou três vezes na casa de Brent —a primeira para reconhecer o local e ver rotas de fuga; a segunda para uma tentativa, falha; e a terceira em que cometeu o crime.
Na tentativa em que falhou, Prevez disse que o crime só não ocorreu porque o quarto da vítima estava trancado. Nessa ocasião, o cubano enviou para Daniel um selfie, sorrindo, e pedindo instruções de como proceder.
Além disso, o telefone que Prevez afirmou ter mantido contato com Daniel foi utilizado para fazer ameaças contra uma prima de Daniel, que reside em Cuba. Essa familiar, que recebeu ameaças, morava em uma casa que fora comprada por Brent em Cuba, dada a Daniel enquanto ambos eram casados.
Como americanos, no entanto, não podem ter residência cubana, Daniel teria posto a casa em nome dessa prima. Mas a familiar estaria exigindo dinheiro para se mudar do local, o que teria feito Daniel, segundo a polícia e depoimento de Prevez, a realizar ameaças.
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