‘Morreu no Rio Vermelho, quer o quê?’: PMs teriam ironizado morte em Florianópolis, diz família

Um homem de 31 anos foi morto na frente da família na manhã desta quinta-feira (17), no bairro do Rio Vermelho, em Florianópolis. Guilherme Jockyman estava em surto e foi baleado no peito pela PM (Polícia Militar). O irmão mais novo, Arthur Jockyman, 23 anos, relatou ao ND Mais que um dos policiais teria insinuado que a vítima morreu devido ao bairro em que morava.

Guilherme Jockyman foi morto pela PM no bairro Rio Vermelho

A família ressalta que Guilherme não estava armado quando foi morto pela PM no Rio Vermelho – Foto: Acervo pessoal/ND

“Morreu no Rio Vermelho, quer o quê?”, teria dito um PM aos vizinhos que testemunharam a ação na Servidão Maringá. “Parece que uma vida no Rio Vermelho vale menos que uma vida no Centro, em Coqueiros ou em Jurerê”, protesta Arthur.

Segundo o irmão da vítima, outros policiais que chegaram riam da situação. “Um deles disse que a culpa era da minha mãe por não ter cuidado do próprio filho. É uma violência inacreditável contra uma pessoa que acabou de perder o filho”, define.

Guilherme Jockyman sorri ao lado da filha

Guilherme Jockyman deixa uma filha de 5 anos – Foto: Acervo pessoal/ND

Guilherme Jockyman havia acabado de completar 31 anos e fez aniversário na véspera da morte, na quarta-feira (16). Ele deixa uma filha de 5 anos, que mora com a mãe e não presenciou a cena. A família está profundamente abalada com a perda.

“Meu pai é uma pessoa de 68 anos e foi militar. Ele está acabado, não entendeu ainda o que aconteceu. Minha mãe está sem chão, perdeu o filho mais velho dela, que fez aniversário ontem”, lamenta o irmão.

Entenda o caso do homem morto pela PM no Rio Vermelho, em Florianópolis

A família é natural de Porto Alegre e mora no bairro do Rio Vermelho, em Florianópolis, desde 2022. Segundo o estudante Arthur, tudo aconteceu muito rápido.

Ele relata que Guilherme tentou cometer suicídio. A família não conseguiu segurá-lo dentro de casa e ele saiu para a rua por volta das 5h desta quinta-feira.

A irmã Cássia, de 29 anos, ligou para o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) e foi orientada a acionar a polícia, visto que Guilherme apresentava risco à própria vida.

A PM chegou no local e ordenou que ele se deitasse no chão. Guilherme não obedeceu e seguiu caminhando em direção à guarnição, quando foi atingido por dois tiros no peito.

“Não foi um tiro nas pernas, para impedi-lo de caminhar. Foram dois tiros para matar”, afirma o irmão Arthur, em choque.

“Ninguém tentou agredir a polícia, nem o meu irmão. Ele só estava caminhando na rua, em direção à PM”, completa.

O Samu também chegou e tentou reanimá-lo, sem sucesso. O óbito de Guilherme Jockyman foi constatado na hora.

Vizinhos testemunharam ação policial no Rio Vermelho

A ação da PM foi registrada pela câmera de segurança dos vizinhos, que cederam as imagens:


A PM mandou Guilherme se deitar e atirou em seu peito quando ele não obedeceu – Vídeo: Acervo pessoal/ND

O vizinho, que optou por não se identificar, disse ao ND Mais que a movimentação foi breve. “Foram algumas palavras, duas ordens de ‘não corre’ e dois tiros. Depois veio toda aquela loucura, o desespero do pai e da mãe”, lembra.

“Cada vez que eu lembro dos gritos me dá até um mal-estar porque foi muito chocante”, completa o vizinho.

Ele também afirma que não testemunhou episódios parecidos de Guilherme: “nenhuma vez eu presenciei surto ou qualquer coisa assim”.

É a segunda vez que o morador vê uma viatura da polícia entrar na rua e ele diz que se sente seguro no bairro, onde mora há sete anos. “Não sei o porquê dessa discriminação”, comenta.

Guilherme fazia tratamento psicológico e tomava remédios controlados para depressão e ansiedade, mas os familiares garantem que ele nunca representou perigo a ninguém. Eles pretendem registrar uma denúncia ainda nesta quinta-feira.

“A gente quer Justiça. Não podemos deixar que isso aconteça com outras pessoas. Esse PM que deu o tiro é um monstro, tem que ser afastado da corporação, não pode continuar nas ruas”, reivindica o irmão Arthur.

Segundo a família, ele não tinha passagens pela polícia. O portal ND Mais procurou a PMSC (Polícia Militar de Santa Catarina), que não ainda não se pronunciou sobre o caso até o momento desta publicação.

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