A morte da jornalista Vanessa Ricarte continua repercutindo na imprensa nacional e internacional. Ela foi morta pelo ex-noivo, Caio Nascimento, na noite de quarta-feira (12). Vanessa chegou a registrar um boletim de ocorrência por ameaça horas antes do crime. Uma realidade muito diferente das declarações de amor que o músico fazia à companheira, afirmando que a relação era “um amor que não se mede, que não cabe nas palavras nem se limita aos dias”.

Jornalista Vanessa Ricarte e o músico Caio Nascimento planejavam casamento e já tinham documento de habilitação no cartório – Foto: Divulgação/@vanessaricarte/Instagram/ND

Caio Nascimento, de 47 anos, já possuía mais de dez passagens pela polícia e um histórico de agressões domésticas, incluindo ameaças contra a própria mãe e irmã. Em suas postagens, contudo, exibia um amor por Vanessa que ele descrevia ser “construído com cuidado e firmado em alicerces sólidos”.

O casal, inclusive, havia iniciado o processo de habilitação de casamento duas semanas antes do crime, no dia 29 de janeiro. O documento emitido por um cartório em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, atestava a aptidão dos noivos para casar.

Em uma publicação há nove semanas, Caio afirmou que a escolha pelo casamento era um “passo mais profundo” e que a escolha pela oficialização da relação é algo que “já pulsa forte dentro deles, um compromisso que reafirma o que suas almas já sabiam”.

 

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Uma publicação compartilhada por Caio Nascimento (@ccaionascimento)

O casal costumava publicar fotos juntos, nas redes sociais de ambos. As postagens estão recebendo diversos comentários após o caso de feminicídio. “Esse perfil é a prova viva, de que nem tudo que tá na internet, é verdade”, diz um perfil nas redes de Caio.

Jornalista denunciou atendimento em delegacia horas antes de ser morta

Na denúncia que fez, Valessa disse que ele a perseguia e não a deixava sair de casa, onde estava era mantida em cárcere privado. No momento em que conseguiu sair, ela foi para a delegacia.

No entanto, em áudio divulgado por amigos da jornalista no sábado (15), Vanessa relata que foi muito mal atendida pelos profissionais de plantão na delegacia e que não recebeu acolhimento necessário no momento da denúncia.

Jornalista trabalhou na assessoria de órgãos públicos por mais de dez anos – Foto: Reprodução/Instagram

“Eu tô bem impactada com o atendimento da Casa da Mulher Brasileira. Eu, que tenho toda instrução, escolaridade, fui tratada dessa maneira, imagine uma mulher vulnerável, sem ter uma rede de apoio nenhuma. Essas que são mortas, essas que vão para a estatística do feminicídio”, lamentou.

Em outro trecho, a vítima destacou que deixou claro para a delegada que precisava voltar para casa, mas ela não ofereceu escolta.

“Falei que precisava ir pra minha casa, faz dois dias que eu não tomo banho, não troco de roupa. Aí ela: então vai pra sua casa. Você já avisou ele? Mande mensagem falando pra ele deixar a casa. Eles não entendem a dimensão do negócio”, desabafou.

Vanessa foi morta horas após registrar boletim de ocorrência por ameaça, cárcere privado e divulgação de vídeos íntimos. Quando ela chegou em casa, encontrou o ex-noivo sob efeito de cocaína e foi esfaqueada três vezes no tórax.

Ex-noivo da jornalista Vanessa Ricarte foi preso

Caio Nascimento foi preso em flagrante por matar a jornalista Vanessa Ricarte, ainda na quarta-feira. Ele passou por audiência de custódia na sexta-feira (14), que determinou a conversão da prisão em flagrante para prisão preventiva.

Na ocasião, o juiz do caso atendeu o pedido da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher e do Ministério Público de Mato Grosso do Sul.

Autoridades se manifestaram

Em nota, o Ministério das Mulheres afirmou que encaminhou um ofício à Corregedoria da Polícia Civil de Mato Grosso do Sul solicitando a abertura de procedimento investigativo para apurar o atendimento prestado à jornalista.

“A equipe do Ministério das Mulheres viaja a Campo Grande ainda neste final de semana para dialogar com representantes da rede de atendimento”, alegou a pasta.

Jornalista Vanessa Ricarte morta foi vítima de feminicídio praticado por ex-companheiro – Foto: Reprodução/Instagram

A Adepol (Associação dos Delegados de Polícia do Estado) também se pronunciou informando que ofereceu “todas as orientações e todas as medidas existentes para a tutela da segurança e vida da vítima, seguindo todo o protocolo operacional existente até então, inclusive com a orientação de não voltar para casa e permanecer no alojamento da Casa da Mulher Brasileira, sugestão que não foi aceita pela vítima e não pode ser coercitiva”.

Em relação ao histórico do suspeito, a polícia ressaltou que não forneceu as informações por serem sigilosas. “Dados sigilosos não foram fornecidos para a vítima e não serão fornecidos doravante para outras pessoas”.

Quem era Vanessa Ricarte, jornalista morta pelo ex

Vanessa Ricarte era chefe da assessoria de comunicação social do MPT-MS (Ministério Público do Trabalho de Mato Grosso do Sul) desde agosto de 2023. Antes disso, atuou em assessorias do Governo do Estado do Mato Grosso do Sul e da Prefeitura de Campo Grande.

Vanessa Ricarte era chefe da assessoria de comunicação social do MPT-MS – Foto: Reprodução/Instagram

Ela completaria 43 anos neste domingo (16). Nas redes sociais, Vanessa compartilhava dicas de estratégias de comunicação e sua trajetória profissional e pessoal.

Apaixonada por comunicação desde a adolescência, formou-se em Jornalismo pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) e lecionou redação por sete anos, antes de ingressar na área de assessoria.

Denuncie a violência contra a mulher

Toda violência doméstica deve ser denunciada sob a Lei Maria da Penha. Se presenciou ou foi vítima, informe as autoridades. Em Santa Catarina, a denúncia pode ser feita de maneira online na Delegacia de Polícia Virtual da Mulher por este link ou pelo WhatsApp (48) 98844-0011. Na Polícia Militar, usa-se o aplicativo PMSC Cidadão. Já por telefone, a denúncia pode ser anônima pelos telefones 181 (Polícia Civil), 190 (Polícia Militar) e 180 (Disque Denúncia).